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masculino dócil

com Helio Siqueira
curadoria Eder Chiodetto

"Num instante de distração, em que a libido encontrava-se em modo fluxo-floema, inadvertidamente surgiu, como contraponto delirante à transformação do homo sapiens em homo fabris, a manifestação encarnada do homo ludens.

É imprecisa a datação de sua vital aparição, mas sabe-se que, muito provavelmente, o fenômeno deu-se numa noite quente de sábado à beira-mar, entre tremores e esgares de afetos explícitos. Os homo ludens, desde que tomaram luas cheias por hóstias, imprudentemente professam, enquanto desenham pautas musicais com o som das cachoeiras, que distraidamente vencerão. Desnudar-se em rituais, dos quais renascem em crianças, facilitou sobremaneira o exercício de metamorfosearem-se em pedras.


E assim sucedeu-se, na improbabilidade das afeições masculinas, a soma de dias plenos e solares. O coração das bananeiras, sorrateiramente a pulsar no lado esquerdo de seus peitos. Ao singrar as águas com seus corpos juvenis, num improvável equilíbrio sobre lâminas que assimilam o dourado do poente, irmanaram-se, amalgamaram-se e, enfim, amaram-se com urgência, areia, sal, líquens e alguns espasmos.

Um Titã desavisado da possibilidade do ócio suporta sobre seus bíceps incomensuráveis o peso do mundo. O corpo branco de uma luz ensimesmada, que oculta a carne vermelha e excita a natureza, em contraste, mostra-se mais leve que o líquido que o contém, ainda que suporte sobre seu tórax a gravidade do universo em expansão.

Um homem transpassado por um feixe de luz em linha reta entra em ebulição até tornar-se onda do mar. Feroz e dócil, a onda do mar tem polaridade auto excludente: ao quebrar-se em algum horizonte do oceano que nos cerca, torna-se masculina e feminina. Em suas espumas brancas percebe-se, então, como potência dócil em transe poético.


O feminino internalizado mansamente redimensiona o masculino que, por sua vez, redefine o feminino, e juntos anulam-se em seus embates cuja resultante é sempre um. Um ser íntegro. Um ser em trânsito. Um ser.

HeliO Y Avila. OYA. A água e a pedra. Pés e mãos fincados na terra. A gravidade invertida. Corpos em vertigem. Num instante de distração."

 

Eder Chiodetto

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publicação do jornal "OYA - Masculino Dócil", 56x32cm, 24 páginas, tiragem de 1.000, São Paulo, 2017

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