corpo
presente
Fotolivro selecionado destaque do ano no Festival ZUM 2019 do Instituto Moreira Salles, parte do acervo da Biblioteca Mário de Andrade e da biblioteca do IMS-SP. Curadoria de Guilherme Teixeira, pesquisa de Carminda André e design de Estúdio Margem. clique para ver o vídeo do livro.
25x19cm, 80 páginas, tiragem de 200, São Paulo, 2019
"O fotolivro apresenta imagens de protestos, mas esta não é uma frase que resolve o livro. O que vemos são registros de atos políticos. Não apenas aqueles convencionais, com cartazes nas ruas, mas também de festas e outros eventos. Em comum, todos propõem um embate físico com forças repressoras das mais diversas instâncias.
Embora a maioria das imagens seja dos corpos vulneráveis dos insurgentes, são as fotos dos policiais que mais saltam à vista. A primeira imagem do livro mostra um policial não identificado segurando uma escopeta. Na sequência, um deles porta uma câmera de vídeo e aponta para os manifestantes. Quase no fim, um policial com caneleiras segura um enorme escudo retangular enquanto avança na direção do fotógrafo.
As últimas páginas trazem fotografias do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou no Largo do Paissandu em 2018. O livro, impresso em risografia, está dividido em cinco capítulos que, embora não pareçam indicar qualquer ordem cronológica, contam uma parte importante da história de uma São Paulo às vésperas de uma nova década, habitada por corpos que resistem mesmo quando as ruínas do Estado desabam sobre cabeças e calçadas."
revista ZUM
(Fiz essa imagem num dia solar em dezembro de 2017, esse prédio costumava atravessar minhas caminhadas pelo centro. 146 famílias do Movimento Luta por Moradia Digna (LMD) moravam no edifício de 24 andares. De certa forma, me atraía ver aquela torre modernista, com sua arquitetura violenta de ferro e vidro, transformada numa ocupação de pessoas abandonadas pela sociedade, viviam naqueles cubos com seus colchões e suas “salas” às vistas na fachada-vitrine.
Esse prédio transparecia a realidade e nos fazia enxergar essas pessoas que invisibilizamos. Aquelas letras gigantes desenhadas no vidro gritavam para gente. Penso nos pixos como um gesto humano pra aliviar a dureza do concreto, uma vontade de deixar uma marca na cidade. Vejo um gesto e um corpx em cada letra pixada nas ruas e construções.
Esse corpo-prédio não está mais de pé, mas sobrevive como um símbolo do movimento por moradia no centro de São Paulo.
O edifício, que ficava no Largo do Paissandu, desabou na madrugada do dia 1º de maio de 2018, quatro pessoas morreram.)